Um livro é um convite para desligar as telas e vivenciar o mundo físico; um livro é um convite para o olhar lento e atencioso, captar o todo e buscar foco nos detalhes; um livro é um convite para a interação entre cuidadores e crianças; um livro é um convite para a imaginação, nas brincadeiras e nas contações de histórias…

Antes de nascer, não há tanta coisa a ser vista pelos bebês. Assim, a complexidade de cores, gradientes e padrões visuais não são entendidos nos primeiros meses. Mas luz e sombra — branco e preto — são acessíveis desde o começo. Figuras simples e de alto contraste permitem que bebês fixem os olhos e compreendam o desenho em detalhes.

O livro Formas vivas na Terra pode acompanhar uma criança desde o momento em que o bebê firma o pescoço, ao fixar os olhos, até o desenvolvimento da fala, brincando, cantando e contando histórias sobre os animais mostrados no livro. O que fica para a vida toda é a memória afetiva, de um primeiro livrinho que convida a tanta coisa.

As ilustrações do livro Formas vivas na Terra são representações das linhas de Nazca, geoglifos presentes no sul do Peru. Essas marcações no chão ocupam dezenas de metros, representando formas geométricas, além de representações de seres vivos. O livro traz alguns desses geoglifos, com doze figuras de plantas e animais.

Além da beleza dessas ilustrações, as linhas de Nazca proporcionam um feliz encontro de gerações — os antigos que criaram as formas, os pais atuais e seus bebês — e instiga o contato com os animais e a cultura da nossa realidade latino-americana. Esse patrimônio mundial, reconhecido pela UNESCO, é naturalmente uma figura de contraste.

Esses traçados foram feitos no chão por pessoas da Civilização de Nazca, uma cultura pré-incaica que ocupou uma área hoje no Peru. Algumas imagens também estão presentes em tecidos e cerâmicas encontradas por arqueólogos. As linhas de Nazca foram feitas entre 500 a.C. a 500 d.C. e, mesmo se estendendo por mais de 400 km², passaram desapercebidas pelos novos locais até a década de 1930.

Em tempos de localização por satélite seria muito mais fácil traçar essas figuras de mais de cem metros de tamanho. O fato é que não sabemos como os antigos deram forma a esses desenhos. O método de construção, no entanto, é simples: movendo o cascalho avermelhado da superfície até que a terra, mais clara, fique à mostra. Os desenhos permanecem, após 2 mil anos, por causa do clima de deserto na região.

A resposta mais sincera é que não sabemos mais. Arqueólogos atuais levantaram hipóteses de fins cerimoniais e religiosos, de um gigantesco calendário astronômico ou para manejo de água. Há até quem fale em alienígenas, mas o mérito parece ser realmente dos seres humanos ancestrais, que fizeram essas grandes figuras sem usar GPS.

Não se tem registro dos significados atribuídos pelas pessoas que originalmente fizeram os desenhos. Habitantes locais e arqueólogos de hoje costumam se referir a esses desenhos como planta, baleia, lagarto, árvore, aranha, macaco, pelicano, beija-flor, condor, espiral, cachorro e garça. Mas se uma criança diz que é chulé subindo de um pé (planta), um anjo (condor) ou um buraco (espiral), não seremos nós a dizer que ela está errada! ;)

Sim, pessoalmente e até em imagens de satélite! Elas estão localizadas a 400 km de Lima, a capital do Peru. Por motivos de preservação existem restrições para visitas a pé, mas a visão do todo só se tem do alto, seja em sobrevoo turístico ou em imagens de satélite, como aqui no Google Maps. Existe também um mirante ao lado da rodovia Panamericana, construída antes da redescoberta dos geoglifos — quando foram perceber, a linha do "lagarto" já tinha sido danificada.